O parto #4
Saí de casa ainda nem eram bem 8h da manhã. Lembro-me que estavam a cair alguns pingos de chuva, o que, depois de dias e dias de um calor infinito, só podia ser um sinal divino de que algo de bom vinha a caminho...
A viagem até à Maternidade Alfredo da Costa foi rápida - com as contrações a serem cada mais regulares e dolorosas. Felizmente que as urgências estavam calmas e não demorou muito a ser atendida. Mas, para terem uma ideia, não me consegui sentar naquela altura, tais as dores que já sentia - leves, muito leves, vejo agora, comparadas com as que senti mais tarde.
Quis Deus que a Dr.a Alice lá estivesse e me pudesse observar. Segundo ela, o parto poderia demorar várias horas até que se concretizasse, já que a dilatação ainda era pouca e a bebé estava um pouco subida.
Mas perante o cenário das contrações e do sangue, fui internada e encaminharam-me para uma sala de partos.
Nos primeiros momentos, tudo relativamente tranquilo. Passou a equipa do turno da manhã e, depois do toque feito, o prognóstico do médico vinha confirmar as palavras da Dra. Alice - ainda não estava bem em trabalho de parto, podendo levar várias horas até que o mesmo se desenrolasse.
Entre CTG sempre ligado e os exercícios possíveis com a bola de Pilates que me arranjaram, fui sentindo cada vez mais dores.
Mas como ainda não havia avanços na dilatação, não fazia muito sentido a epidural, pelo que tentei ir-me aguentando o melhor que conseguia. Mas, às tantas, as dores eram tantas que comecei a gemer - já era complicado não gritar... E, perante este cenário, fui aconselhada por uma enfermeira a tomar um banho quente.
Acho que nessa altura as águas rebentaram, embora não o tenha sentido bem, por causa da água do banho. O que é certo é que as dores pioraram MUITO durante o duche, a ponto de ser complicado manter-me de pé e andar sozinha...
Quando cheguei ao quarto, a situação complicou-se e as dores estavam a aumentar de intensidade. Nesta altura pedi a epidural, tendo plena consciência que podia atrasar todo o processo.
Ficar quieta para levar a epidural no sítio certo quando se está com dores descomunais não é tarefa fácil. Só o consegui graças à enfermeira (cujo nome, infelizmente, não me consigo lembrar), que me segurou e me indicou como devia respirar: "cheirar uma flor, apagar uma vela"...
Mal a epidural começou a fazer efeito, pude, por fim, descansar. Foi também administrada alguma ocitocina, para que o trabalho de parto não cessasse, e as coisas se continuassem a desenrolar. E com isto já era cerca do meio dia...
Não consegui dormir, mas respirei um pouco de alívio, até ao momento em que comecei a sentir um líquido a correr-me entre as pernas. Só pensei no rebentamento da bolsa e, por isso, chamei alguém.
Prontamente, apareceu-me a enfermeira Clésia. Na altura, ainda não nos tinhamos cruzado, mas estava destinado que ela seria absolutamente fulcral na chegada ao mundo da Emília.
Quando lhe disse o que suspeitava, ela observou-me com toda a calma possível e confirmou que era a bolsa a rebentar.
Disse-me, então, para eu fazer força. Nessa altura, fiquei desconcertada, tal a emoção de saber que, em poucos minutos, tudo se tinha desenrolado e a minha filha estava prestes a nascer...
Mas voltei a concentrar-me e fiz toda a força que consegui até à Emília nascer. Tudo ao lado do meu marido, que assistiu a este momento único e teve o privilégio de lhe cortar o cordão.
E assim nasceu a Emília, de parto natural, com 4 quilos e 40 gramas de gente. Não houve corte prévio, mas sim uma laceração, bem mais pequena do que o corte do parto da Laura (e que não me doeu nada no pós-parto).
Ainda hoje me arrepio ao pensar em como a natureza é tão perfeita, fazendo-me capaz de parir uma menina tão grande, sem grandes custos...
E emociono-me também ao passar pela MAC, ao pensar na Dra. Alice Cabugueira, na Dra. Filipa Alpendre (que, não sendo minha obstetra, está sempre presente quando mais preciso) e, agora também, nas mãos sábias da enfermeira Clésia, que geriu tudo com uma calma e um à-vontade absolutamente fantásticos. Bem hajam a todas e obrigada por fazerem parte da minha vida e da vida da(s) minha(s) filha(s).